Informes

Notícias

IMADIS conclui projeto de extensão universitária no Morro do Vidigal

Chegou ao fim no dia 16 de novembro o projeto de extensão universitária "A criação do IMADIS e a retomada da Escola de Cinema do Djalma - Vidigal", que recebeu apoio do EDITAL DO IEAHu PARA APOIO À EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA EM CONTEXTOS DE VULNERABILIDADE – 2022 e do Departamento de Comunicação da PUC-Rio. O projeto foi desenvolvido a partir de ações propostas pelo recém-criado IMADIS – Laboratório de Pesquisa Imagens em disputa no Cinema e Audiovisual (CNPQ/PUC-Rio) – coordenado pela professora Andréa França e co-coordenado pela professora Patrícia Machado.

O objetivo foi incentivar a retomada das atividades da Escola de Cinema do Djalma, que funcionou durante sete anos na Escola Municipal Prefeito Djalma Maranhão, no morro do Vidigal, Zona Sul do Rio de Janeiro, e que havia sido paralisada durante a pandemia da Covid-19. A proposta foi promover a retomada das atividades cineclubistas entre as crianças que retornaram ao ensino presencial depois de quase dois anos longe da escola, levando os estudantes de graduação em Cinema da PUC-Rio até a escola no Vidigal para exibir e debater seus filmes realizados no curso universitário.

Foram realizadas três sessões de exibição de filmes, seguida de debates com 33 estudantes entre 8 e 12 anos de idade. As duas primeiras sessões aconteceram na própria escola e foram ricas em trocas de experiências e conhecimentos entre os estudantes do ensino fundamental e os universitários. Na última sessão, as crianças foram levadas à Cinemateca do Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro para assistir à exibição de Chico, filme premiado dos irmãos Carvalho, egressos do curso de Cinema da PUC-Rio, onde estudaram com bolsa integral durante os quatro anos de estudo. Depois da sessão, as crianças do Vidigal conversaram sobre o filme com os realizadores, nascidos e criados no Morro do Salgueiro, na Zona Norte do Rio. A conversa sobre o filme levantou questões importantes sobre a violência policial nas favelas cariocas, a vulnerabilidade de pessoas pretas e o racismo. As crianças fizeram perguntas, comentários e se entusiasmaram com a presença dos cineastas.

O que chamou a atenção ao longo dos encontros foi o envolvimento das crianças com os filmes exibidos e a vontade de segurar as câmeras, produzir imagens e fazer cinema. Ao final dos debates, os estudantes da PUC cederam seus equipamentos e ensinaram como usá-los. A intenção do IMADIS é produzir um curta-metragem a partir do material produzido coletivamente. Além de oferecer visibilidade ao projeto da Escola de Cinema do Djalma, as imagens também passarão a fazer parte do acervo de filmes do Departamento de Comunicação e ficarão disponíveis para futuras pesquisas e reflexões sobre o processo de transformação vivido pelas crianças do morro do Vidigal durante a Pandemia. Também foi discutida a possibilidade de retomada de ações importantes que foram paralisadas.

Mais informações sobre o projeto:

A Escola de Cinema do Djalma foi criada em 2012, quando ganhou o edital do Projeto de Criação de Escolas de Cinema em Escolas de Educação Fundamental pelo grupo CINEAD – Cinema para Aprender e Desaprender – desenvolvido pela Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ). As atividades na escola começaram com a exibição de filmes e oficinas de produção de imagens para crianças com pouco ou nenhum acesso a cinemas, cineclubes, videolocadoras e outros espaços de exibição de filmes. Em 2016, o projeto abriu uma nova frente ao realizar o projeto de um documentário que buscava contar a história da favela e da escola. Paraíso Tropical Vidigal registra os bastidores desta busca na comunidade pela história da favela.

A partir do sucesso do filme entre os moradores, o projeto de cinema foi definitivamente incluído no Projeto Político Pedagógico da Escola, que passou a acontecer com crianças e jovens de três turmas diferentes (terceiro, quarto e quinto anos). Em 2019, um novo projeto de filme começou a ser desenvolvido: arquivos fílmicos em Super-8, com registros da remoção da favela para o subúrbio de Santa Cruz/Antares nos anos 1970. Esses registros, que ficaram guardados por mais de 40 anos em uma caixa de isopor, foram restaurados e mostrados para os moradores, a fim de reativar lembranças e elaborar a memória do lugar. O filme, em processo de montagem, foi paralisado por causa da pandemia do COVID-19.

O projeto foi realizado com a retomada das atividades após a pandemia, que afetou de maneira direta e irremediável as crianças e os jovens alunos das escolas públicas de todo Brasil. No caso da Escola Municipal Prefeito Djalma Maranhão, no morro do Vidigal, poucos estudantes (menos de 200) tiveram acesso ao material de estudo disponibilizado pelos professores em grupos de whatsapp e/ou nas redes sociais. Como revela um estudo do Unicef, divulgado em novembro de 2020, celular e computador com acesso à internet de qualidade ainda são itens de luxo para uma parcela considerável de brasileiros. Ainda segundo esse estudo, quase 1,5 milhão de crianças e adolescentes de 6 a 17 anos não frequentavam a escola em 2020, seja de forma remota ou presencial no Brasil.

O levantamento também mostra que 3,7 milhões de estudantes não tiveram acesso a atividades escolares ou não conseguiram estudar em casa. Ao todo, 5,1 milhões não tiveram acesso à educação no ano de 2020. No retorno às aulas presenciais, diante da grande defasagem do ensino devido a vários meses longe da sala de aula, a escola de cinema do morro do Vidigal – que oferecia um espaço de cultura, criação e debates – deixou de existir.

Diante desse contexto, a proposta foi colaborar para a retomada das atividades da Escola do Djalma através de um intercâmbio cultural entre as crianças e os graduandos do curso de Cinema do Departamento de Comunicação da PUC-Rio. Dentro da proposta do IMADIS de refletir sobre a produção, circulação e exibição de imagens no contexto contemporâneo, propusemos a retomada das atividades cineclubistas na escola do morro do Vidigal com a exibição de filmes realizados no curso de Cinema da PUC-Rio. O intuito foi aproveitar a experiência recente que surgiu no contexto da pandemia e das aulas remotas, quando os alunos da disciplina de Produção Audiovisual II começaram a mapear e reorganizar o acervo de filmes realizados pelos alunos de Cinema desde que o curso foi criado, em 2005.

A partir do acervo, os estudantes realizaram processos de curadoria, criaram sessões temáticas, debates com egressos do curso e organizaram a Mostraí, primeira mostra de filmes online do Departamento de Comunicação da PUC-Rio. Entre os temas das sessões da Mostraí estão aqueles relativos à cidade do Rio de Janeiro, à disputa de territórios, à violência policial contra populações pobres e vivendo em regiões precarizadas, às dificuldades do confinamento e às fabulações possíveis em tempos de dificuldades.

Em um cenário de pandemia onde a cultura, o ensino e a ciência foram desprezados, como aconteceu no Brasil, a proposta é a de reconectar crianças e jovens que sofrem diretamente os efeitos da desigualdade social e econômica com projetos que estimulam a educação e a cultura, como o da Escola de Cinema do Djalma. Para isso, o projeto contou com a parceria de Marta Cardoso Guedes, pesquisadora, professora docente de Educação Física e consultora teatral do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), à frente da criação da Escola de Cinema do Djalma desde os seus primórdios. Marta Guedes é autora da tese “Cinema na Escola do Vidigal: Elaboração de memória e luta da favela”, defendida em março de 2021 pela UFRJ, na qual descreve essa longa história de crença no cinema como elemento de agregação, criação, fortalecimento de afetos e de união comunitária.

Ainda no contexto da crise, o próprio Conselho Nacional de Educação (CNE) reconheceu, em parecer, que o órgão deixou de planejar o futuro do desconfinamento nas escolas e universidades, o que deixa a educação brasileira em uma situação grave de abandono. Pensando no presente desses estudantes que habitam regiões vulneráveis, o IMADIS propõe-se a retomar parte das ações paralisadas e criar um horizonte de perspectivas dentro dos moldes deste edital. A ideia é trazer para o centro do debate o campo das narrativas, da produção e exibição de imagens como prática de conhecimento, pesquisa e aprendizagem. Dentro da lógica do Laboratório, interessa-nos pensar sobre as formas de percepção e de circulação das imagens do cinema e da cidade assim como as reflexões geradas por elas. As três sessões serão filmadas pelos estudantes do curso de cinema da PUC-Rio e o material editado será disponibilizado no site e nas redes sociais do IMADIS.

 


PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA
DO RIO DE JANEIRO

Rua Marquês de São Vicente, 225
- Prédio Kennedy - 6° andar Gávea
Rio de Janeiro, RJ - Brasil - 22451-900
Cx. Postal: 38097
tel. +55 (21) 3527-1144 • com@puc-rio.br