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Escritora Priscila Gontijo dá dicas de como participar de uma sala de roteiro

30/05/2023

Devido à falta de escolas de roteiro no Brasil, não existe uma regra comum como há nos Estados Unidos. Em debate com alunos de Comunicação, a  roteirista Priscila Gontijo, que trabalhou na quarta temporada da série "#MeChamadeBruna", comentou como isso se reflete nas salas de roteiro. Cada uma seria diferente, uma vez que não há uma uniformização no aprendizado. Assim, criando a necessidade do escritor ser flexível para se adaptar a cada novo trabalho.  

A escritora do livro "Animais Submersos" também deu algumas dicas para quem deseja participar de uma sala de roteiro. O primeiro passo é escrever boas bíblias, um guia de uma série que explica os detalhes dela, para ter o que mostrar às produtoras. Outro conselho é atuar como assistente de roteiro, pois terá a oportunidade de vivenciar como funciona o processo criativo. Além disso, acredita ser importante produzir, uma vez que isso permite o entendimento do que é viável, e escrever peças teatrais.   

Entre suas recomendações, ela explicou a importância de saber escolher quais batalhas travar e de quais ideias desapegar. Inclusive, a finalista do Prêmio São Paulo de Literatura mencionou como  muitas salas de roteiro não duram muito graças às brigas ocasionadas pelas divergências criativas.

Em conversa com alunos, Gontijo detalhou a situação brasileira em relação aos direitos trabalhistas nas plataformas de streaming, as diferenças entre o roteiro teatral e o televisivo e como o teatro ajuda na escrita:

Você comentou que o teatro é essencial para quem deseja escrever um roteiro. Quais características teatrais podem ser utilizadas nele? 

Diálogo. A estrutura é muito parecida, só que, no caso de uma série, ela exige um fôlego maior. Como o teatro exige mais silêncio do que a TV, eu acho que ele engloba mais pausas e silêncios. No caso do teatro, uma peça de 50 páginas pode durar até duas horas, já no audiovisual, um roteiro de 50 páginas normalmente vai dar 50 minutos, porque cada minuto é uma página. Então, é outro tempo de escrita em relação ao produto final

Quais são as diferenças de fazer um roteiro para teatro e um para a TV?

A limitação de personagens, principalmente, porque é improvável que um ator aceite ficar em cartaz final de semana durante um ou dois meses para falar uma frase. Já na TV, pode-se chamar figurante. Muitas vezes, um personagem que fala uma frase muda a cena. No teatro, não pode-se usar do mesmo artifício porque ele tem uma limitação de locação, por isso eu considero escrever para teatro mais difícil. Também pela pessoa sair da casa dela para assistir naquele período de tempo, aquela peça tem que entreter de uma forma muito específica. O cinema também, mas a pessoa que vê uma série em casa pode parar e voltar - mesma coisa com o livro.

É necessário saber outro idioma para conseguir atuar no mercado hoje?

É bom aprender inglês e espanhol, por causa do mercado latino-americano. Na sala de roteiro, usa-se muito jargão inglês, mas eu tomo cuidado com isso. Nós moramos no Brasil, as pessoas aqui mal têm acesso a educação e a leitura, então, exigir isso soa um pouco excludente. Há tantas pessoas talentosas que não tem acesso a outra língua e serão impedidas de estar na sala de roteiro e, às vezes, elas têm muito a contribuir por virem de outras vivências. Muitas vezes eu vejo pessoas dizerem que querem alguém em sala que fale inglês, mas eu sou contra isso. 

As novas gerações têm mais possibilidades para se preparem antes de entrarem em uma sala de roteiro. Como era antes quando essas escolas e cursos não existiam? 

A minha entrada foi através do teatro. Eu escrevia peças teatrais, alguns diretores assistiram e me chamaram para escrever roteiro. Então, o caminho era escrever em outros gêneros. Claro que o roteiro é dramaturgia, mas é dramaturgia para tela. A peça teatral é a dramaturgia para o palco, mas tem uma semelhança de gênero porque basicamente uma obra é escrita em diálogos, logo, quem tinha talento para escrevê-los acabava sendo convidado para participar de uma sala de roteiros. Acho que ainda é um pouco assim, porque tenho amigos dramaturgos em sala de roteiro.

Nos Estados Unidos está acontecendo uma greve dos roteiristas por mais direitos trabalhistas nas plataformas de streaming. Como é essa situação no Brasil? 

O roteirista que escrevia para a Globo, por exemplo, tinha uma condição de estabilidade cotidiana maior antigamente. No Brasil, [os direitos trabalhistas para roteiristas nas plataformas de streaming] ainda são precários, porque você escreve algo para um streaming e muitas vezes recebe por entrega, que é uma coisa complicada. Não tem uma segurança de continuidade. Você estar numa sala de roteiro não quer dizer que amanhã vai estar em outra - por mais sucesso que faça a série, isso não é garantia.

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Texto de Yasmin Capistrano

Foto de Paula Torquato


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