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Pesquisadores apontam impactos e rumos do streaming na cultura e no consumo

22/06/2023

O streaming confronta-se com uma certa contradição. Embora plataformas como Netflix e Spotify tenham expandido a produção, a distribuição e, até certo ponto, o acesso de conteúdos em vídeo e áudio, e consolidado o consumo sob demanta no contemporâneo hipermidiático, elas confrontam-se com uma relativa exaustão de modelos negócios cujo sucesso previsto inicialmente ainda não se consumou. O diagnóstico das pesquisadoras de UFF Mayka Castellano e Melina Meimaridis integrou as relexões levantadas no seminário PPGCOM Streaming de Vídeo e suas Potencialidades: Encontro PUC-Rio/UFF, segunda-feira passada (19), na PUC-Rio.

Organizado pelas professoras Tatiana Siciliano, diretora do Departamento de Comunicação da PUC-Rio, e Bruna Aucar, integrante do PPGCOM da PUC-Rio, o encontro reuniu pesquisadores e pesquisadoras das duas universidades vinculados aos respectivos programas de pós-graduação e às respectivas graduações em Estudos de Mídia. Em meio a debates em torno dos efeitos das plataformas de streaming na política, nas indústrias criativas e na construção de subjetividades, os especialistas refletiram sobre implicações e rumos desse desdobramento das transformações digitais.

Com participação de estudantes, as conversas contribuíram, por exemplo, para desmistificar uma percepção de que o streaming aposentaria a TV. "Observamos que uma nova mídia não exclui, e sim se soma à antiga", ponderou Tatiana Siciliano. Ela destaca que o seminário marcou um encontro entre pesquisadores em diálogo:

“Os da UFF, que estão há mais tempo que nós nessa discussão do streaming e do audiovisual, fazem um grupo de pesquisa forte. E a PUC-Rio, que também está nessa discussão há um tempo, vem trocando com eles”. 

Os pesquisadores Afonso de Albuquerque, professor titular do Departamento de Estudos Culturais e Mídia e do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal Fluminense; Melina Meimaridis, coordenadoras do grupo de pesquisa TeleVisões (UFF) e pesquisadora associada ao Série Clube, também da UFF; e Mayka Castellano, professora de Estudos Culturais e Mídia da UFF, membro permanente do PPGCOM da UFF e organizadora, com Ariane Holzbach, da coletânea "TeleVisões: reflexões para além da TV", conversaram sobre representações no audiovisual e na academia, densamente influenciada pela perspectiva americana. Também assinalaram implicações e caminhos do streaming nas instâncias socioculturais, políticas e econômicas do contemporâneo.  

Neste sentido, Tatiana Sicilano e Bruna Aucar refletiram sobre desdobramentos da histórica relação entre cultura visual e consumo, redimensiocada com as plataformas digitais. Ao encontro deste redimensionamento, nasceu o Série Clube do curso de Estudos de Mídia da UFF. A experiência foi compartilhada, no desfecho do seminário, pela doutoranda Daniela Mazur, do PPGCOM da universidade.

Ao contar as experimentações e os aprendizados do Série Clube, Daniela reforçou a troca de saberes e vivências acadêmicas alinhadas às transformações digitais proposta pela iniciativa. A ideia de um seminário que reunisse estudiosos do streaming comelou a se consumar quando Tatiana Siciliano e Bruna Aucar aprofundaram a aproximação com pesquisadores da Universidade Fedaral Fluminense no congresso TeleVisões da UFF. O convite para participarem de um encontro na PUC-Rio foi feito lá mesmo, conta Aucar.

O tema constitui um dos objetos de pesquisas e debates preponderantes do PPGCOM da PUC-Rio, assim como da graduação em Estudos de Mídia. Articuladas a demandas crescentes da academia e do mercado, investigações e reflexões sobre os entrelaces entre as transformações digitais, as linguagens audiovisuais e o consumo têm guiado sucessivos estudos de pesquisadoras e pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da PUC-Rio, como os desenvolvidos por Tatiana, Bruna e pelo professor Everardo Rocha, também do PPGCOM da PUC-Rio. (Com mais de 20 livros pubiicados, Everardo é artífice das pesquisas associadas à antroplogia do consumo.) Os três publicaram, neste ano, um artigo sobre o assunto na Revista Comunicação, Mídia e Consumo da ESPM-SP: "Espectatorialidade e consumo: da Loja de Departamento à Shoppable TV" (Leia aqui o artigo).

Aberto à muldisciplinaridade, tais empenhos investigatórios afinam-se com intercâmbios acadêmicos como o promovido no seminário PPGCOM Streaming de Vídeo e suas Potencialidades: Encontro PUC-Rio/UFF. Na primeira mesa do encontro, mediada pelo professor Marcelo Alves, coordenador do Núcleo de Tecnologia do Departamento de Comunicação (Nutec) e da ênfase em Tecnologia da graduação em Estudos de Mídia, Afonso de Albuquerque apontou como a globalização tem valorizado produções acadêmicas dos Estados Unidos. O país investiu, observou o pesquisador, em produções audiovisuais que alcançam o mundo todo, "o que leva outros países a enxergarem a própria identidade pela visão estadunidense".

Afonso acredita que as plataformas de streaming contribuem, de certa forma, para esse domínio americano, pois as produções, argumentou ele, acabam subordinadas aos parâmetros daqueles que ditam os meios de circulação. Para o professor, não importa mais de onde o produto vem, mas se ele segue os requisitos da produtora.

Por outro lado, Afonso reconhece que conteúdos latino-americanos circulam em nível global, constituindo uma força contra-hegemônica. Assim, “apresenta-se para nós um contexto de comunicação soberana que perpassa pelo fato de produzir o próprio conteúdo sobre o próprio país com visões próprias que conversam com outras”, acrescentou o pesquisador.

Já na mesa seguinte, a professora Mayka Castellano e a pesquisadora Melina Meimaridis desmistificaram a presunção de as plataformas de streaming acabariam com os programas televisivos. Até porque, lembraram elas, o streaming alimenta-se também de séries que pararam de ser exibidas na TV, mas ainda despertam uma forte audiência de nicho. “Já disseram que a TV ia matar o rádio e o cinema. Mas o que se vê são experiências [de mídia] agregadas”, ponderou Mayka.

As pesquisadoras avaliam, no entanto, que os modelos de negócios concebidos para as plataformas de streaming audiovisuais não corresponderam à inflada expectativa original. Pelo contrário, aproximam-se de uma exaustão. "A saída pode ser a venda conjugada de pacotes, agregando mais de uma plataforma", projetou Melina.  

Logo depois, Tatiana Siciliano e Bruna reiteraram que uma nova mídia não costuma extinguir a velha, e sim a desencadear aglunações e rearranjos socioculturais e econômicos. Ao assinalarem conexões entre a cultura visual e o consumo, elas ressaltaram que as dinâmicas e os princípios da comunicação digital têm despertado, entre outrios efeitos, novas linguagens públicitárias e novos formatos de relacionamento com os espectadores-consumidores: 

“Na novela Todas as Flores, por exemplo, a Natura entra em todos os momentos, os personagens falam sobre os produtos da marca e um deles é inspirado por um perfume da marca. Isso reforça a inserção das marcas nos enredos.”, exemplificou Bruna.

Na mesa final do seminário, a doutoranda Daniela Mazur compartilhou rotinas, lições, gratificações e desafios vivenciados pelo Série Clube da UFF, nascido em 2012 com o propósito de reunir estudantes interessados em debate e produzir séries audiovisuais. O clube analisa a cadeia em torno das ficções seriadas, desde a construção de personagens e até ações de fãs. Também reflete sobre as políticas de mídia no Brasil e no exterior.

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Texto de Camila Perecmanis, Camila Oliveira e Yasmin Capistrano


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