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Dalmonte: "A sociedade nunca precisou tanto do profissional da informação"

19/04/2023

A qualificação ética e profissional do comunicador revela-se ainda mais importante no contemporâneo hipermidiático. Não só para combater a desinformação propagada de maneira extensa e intensa nos meios digitais, mas para municiar o pensamento crítico indispensável aos avanços democráticos e sociais. A partir deste diagnóstico, o professor e pesquisador da Universidade Federal da Bahia (UFBA) Edson Dalmonte discutiu a identidade e o papel social da comunicação em Aula Inaugural ministrada sexta passada (14) na PUC-Rio. (Veja a íntegra no canal do Departamento de Comunicação no YouTube.)

Profs. Arthur Ituassu, Edson Dalmonte, Claudia Pereira,
Tatiana Siciliano (Diretora do Dep. Comunicação) e Leonel Aguiar.

“A sociedade nunca precisou tanto do profissional da informação”, afirmou Dalmonte, autor de livros como "Mídia: fonte e palanque do pensamento culturalista de Gilberto Freyre" e "Pensar o discurso no webjornalismo: temporalidade, paratexto e comunidades de experiência". Ele destacou a importância crucial da informação verdadeira, plural e consistente para o senso crítico e, portanto, para a manutenção dos valores democráticos.

Para Dalmonte, também organizador de "Teoria e prática da crítica midiática", a descentralização das dinâmicas comunicativas derivada das transformações não dispensa a mediação jornalística, comprometida com a verificação e a contextualização dos fatos. O jornalista não perde sua relevância social, argumentou o palestrante, devido às competências e os compromissos éticos para qualificar a informação. “Um aplicativo pode te entregar dados, mas quem pode contextualizá-los é o comunicador”, distinguiu. 

Por isso, acrescentou Dalmonte, a produção jornalística historicamente pauta o debate público, as discussões governamentais, em busca de melhorias sociais. Ele defendeu o resgate dessa prática para que o jornalismo gere (mais) impactos positivos nos dias atuais. 

Um papel social que exige, ainda segundo o professor, uma formação crítica, que oriente o profissional a lidar com as rápidas mudanças na comunicação contemporânea e a conjugar os ambientes e práticas online à responsabilidade com a informação qualificada. Responsabilidade que se estende, ponderou Dalmonte, aos influenciadores digitais.  

Em breve conversa depois da Aula Inaugural do Departamento de Comunicação, ele apontou caminhos para combater a desinformação e reiterou a importância de a sua distribuição ser responsabilizada:

 

De que forma o profissional de comunicação pode reduzir distorções e simplificações de conteúdos provocada pela lógica das bolhas digitais? 

O papel de quem trabalha na comunicação é trazer uma oferta de vozes mais ampla. É papel do jornalismo, por exemplo, trazer as vozes que são divergentes quanto a um tema. Quando o texto traz fontes distintas, dados e ângulos diversos, ele ajuda a comunidade leitora a entender sua própria diversidade, a compreender que o tema não é centrado em único narrador, única fonte. Pluralidade de fontes é fundamental.  

Muitos passaram a se informar pelas redes e veículos sem compromisso com a verificação e a pluralidade dos conteúdos, tornando-se mais permeáveis à desinformação. Como resolver esse fenômeno?

O fenômeno tem a ver com a chamada dieta informacional. O número de acessos aos jornais caiu. As pessoas passam a buscar a informação em ambientes que não têm o perfil reconhecidamente jornalístico. Isso aumenta o risco de fortalecer uma onda de desinformação. Então, me parece que precisamos trazer para a sociedade discussões sobre o papel da informação qualificada. Assim como eu escolho uma fruta que está com um bom aspecto, eu preciso também escolher bons elementos para a minha dieta informacional, ou seja, fontes confiáveis, trabalho com checagem, porque isso resulta em um melhor posicionamento diante da sociedade. 

A regulação das redes sociais tem sido proposta, em diversos países, inclusive no Brasil, como uma vacina contra a desinformação. Este é o caminho para a sociedade se informar melhor e, consequentemente, pensar melhor seus rumos?

A discussão ampla é fundamental. Não tenho a clareza para dizer o caminho. Esse é o grande desafio do nosso contemporâneo, porque não dá para deixar que as coisas sigam assim. Criar Conselhos, com ampla participação social, que pensem em diretrizes [para o uso das redes], deve fazer parte do processo. A regulação está como se fosse um nível acima, o que nos interessa é pensar em um sistema de responsabilização.

A íntegra da aula inaugural está no canal do Departamento de Comunicação da PUC-Rio no YouTube.

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Texto de Yasmin Capistrano.

Fotos de Weiler Filho, Paula Torquato e Cristina Matos.

 


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